terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

GERAIS/ RIO PIRACICABA

Aniversário de Henrique

  Henrique é referencia em fé, caridade e ação comunitária em favor de causas sociais.
Henrique Dias Barcelos, Presidente da sociedade São Vicente de Paula e coordenador da pastoral Carcerária de Rio Piracicaba residente no asilo da cidade, completou oitenta e um anos no ultimo dia 04 de fevereiro, no entanto comemorou no domingo, dia 07, com um almoço que reuniu familiares e amigos na área externa do asilo onde reside. Em Rio Piracicaba e em pode-se dizer na comunidade católica da região, Henrique é referencia em fé, caridade e ação comunitária em favor de causas sociais.
 Reedição de entrevista concedida por Henrique ao Jornal Páginas Regional, edição 79, março de 2015.

Entrevista

Henrique Dias Barcelos, 80 anos. Presidente da sociedade São Vicente de Paula e coordenador da pastoral Carcerária de Rio Piracicaba. Um homem cuja vida é toda dedicada à fé e a pratica do amor ao próximo através de ações, orações e palavras.
“Às vezes por falta de uma palavra apoio, de incentivo ou mesmo de reconhecimento, muitos talentos são perdidos e muitas coisas boas deixam de serem feitas.”

JP- Onde você nasceu?
H- Numa roça perto de São Domingos do Prata. Nasci com deficiência. Sem condições de andar e naquela época não tinha médico. Até os 03 anos meu corpo era todo mole, nem sentado dava para me colocar. Fui melhorando aos poucos sem nem saber como. As exigências pessoais me faziam pensar muito, e quando eu tinha 12 anos via meus irmãos, eram oito, indo pra roça ajudar meu pai e ficava pensando, será que eu não sirvo pra nada?  Então arrumei umas ferramentas de marceneiro e, desse jeito que você está me vendo, eu já manobrei plaina, enxó, serrote... Aquela mesa ali no canto (mostrando uma mesa no canto do quarto) é serviço meu. Fiz umas seis camas, cadeira, oratórios...

JP- Você tinha mais mobilidade aos 12 anos?
H- Um pouco mais, e mais destreza na cintura. No começo meus irmãos não queriam me ver com ferramentas, medo que eu me machucasse. Eu trabalhava escondido... Depois gente de fora começou a passar e elogiar meu serviço, e as palavras dessas pessoas me ajudou muito.

JP-E sua mãe?
H- Ela morreu quando eu tinha 06 anos e 10 meses. Uma irmã mais velha e meu pai eram quem cuidavam de mim. Quando eu tinha 16 anos meu pai faleceu e fui morar com minha irmã até os 26. Mas não dava muito certo com meu cunhado, então fui morar com um tio no Prata. Ficamos lá até eu fazer 29 anos, e mudamos para Rio Piracicaba. Morei com ele até que ele morreu, eu tinha 42 anos. Ele foi igual meu pai para mim. E tinha meus primos, nos dávamos bem. Sei que eu também os ajudei com palavras, e sei que elas foram importantes para eles.
            Depois da morte do meu tio meus primos queriam que eu fosse morar com eles, mas eu fiz a escolha de vir para o asilo.

JP-E aqui começou a se envolver em serviços comunitários?
H-Sim. Trabalhei com grupos de jovens, depois a Sociedade São Vicente de Paula.

JP- Quando eu estava com 19 anos, chegou a minhas mãos um livro da imitação de Cristo. Comecei a ler e meditar. Fui entendendo como Deus fala com nossa alma, e nossa alma fala com Deus. Se agente abre espaço na mente Deus entra e aprendemos muito.E sobre sua relação com Deus?
H-

JP-Você está dizendo que Deus fala diretamente com a gente?
H-Sim Betão, quando agente abre o coração Deus nos toca de forma direta, Ele mesmo que nos guia e mostra o verdadeiro caminho. Deus não precisa mandar recado, quando agente abre o coração vê que o verdadeiro guia está dentro de nós mesmos, aí não precisamos de ninguém nos dizer o que devemos fazer, ou qual é a vontade de Deus para nós, porque Deus mesmo fala em nosso coração. E Deus não nos obriga ou impõe nada, Jesus dizia depois de fazer um milagre que foi a fé da pessoa, assim Deus não manda fazer sacrifício, Ele ensina dentro do coração da gente.

JP-E como é sua participação hoje na comunidade?
H- Hoje eu participo muito pouco. Tempos atrás eu tinha um amigo, o Juventino, que ficou comigo 20 anos. Agora mora com uma irmã em Monlevade. Ele me ajudou muito e tentei retribuir com minhas palavras. Não participo muito porque não tenho quem me leva. Mas ainda faço o que posso, penso que o importante é fazer a obra de Deus tentando fazer as pessoas redescobrir Deus dentro delas. Aquelas pessoas que estão lá nos cantos das roças, os pequeninos mais esquecidos, hoje todo mundo preocupa mais com obra social, isso é importante, mas tem diferença entre obra social e obra de Deus. E despertar Deus no coração das pessoas é mais importante, aprender e passar para o outro o que aprendemos. Porque é um mistério, Deus é um só, mas está uma parte com a gente e uma parte com o outro, e quando existe solidariedade, ajuda mutua, Deus fica satisfeito, porque dois amores que não podem andar separados é o amor de Deus e o amor ao próximo.

JP-Você está dizendo que não podemos servir a Deus sem servir ao próximo?
H- Não se pode servir no egoísmo, precisamos ser humildes para reconhecer que precisamos da ajuda dos outros e em troca ajudar a quem precisa de nós. O mundo hoje não quer se interessa pelas coisas de Deus, quer se interessar mais pelas coisas materiais, e a obra de Deus é mais espiritual do que material.

JP-E a solidão, você sente?
H-Olha, a solidão já me castigou muito, mas hoje é difícil explicar, mas eu sinto a presença de Deus e fica tudo bem. Eu tenho necessidade da ajuda humana porque Deus já fez tudo assim, um ajudando o outro. A partir do momento em que estamos em total sintonia com Deus a solidão é preenchida, mas precisamos do outro em nossa vida, tanto para receber com humildade quanto para compartilhar o que somos.   

JP-Que mensagem você deixa aos nossos leitores?

H- Betão, principalmente que precisamos mostrar para as pessoas que o reino de Deus está escondido dentro delas, a obra de Deus é mais espiritual do que material, precisamos mostrar para as pessoas que elas podem desenvolver o reino de Deus dentro delas e ensinar a outras a fazerem o mesmo

5 comentários:

  1. Esse marcou o verdadeiro serviço social de Rio Piracicaba MG. Tinha um grande orgulho de ser amigo do Senhor Henrique, minha Saudosa mãe o ajudava na comunidade do Córrego São Miguel. Esse grande homem " matou a fome" de muitas famílias aqui no bairro inclusive da minha humilde família. Que Deus o tenha em seus braços!!

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  2. Saudades eternas. Descanse em paz Sr. Henrique. Pessoa muito querida. Deus abençoe. Deus esteja com familiares e amigos. Sentindo muito pela sua morte.

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  3. Henrique, um anjo que Deus colocou pra caminhar junto a nós piracicabenses. Agora estará junto ao Criador.

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  4. Que Deus o acolha em sua glória! Agora faz parte dos anjos a cuidar de todos aqui na terra!

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